A subtileza bacoca das ameaças a Rafael Marques de Morais mostra, inequivocamente, que os ratos começam a preparar a rota de fuga do navio-almirante, cientes de que mais cedo ou mais tarde ele vai ao fundo. Não é para menos. O naufrágio está à vista.
Por Orlando Castro
A Schillings exige que o Maka Angola remova “imediatamente os artigos e a sondagem do vosso site”, se comprometa “a não republicar as alegações”, a “publicar um pedido de desculpas no seu site (texto e termos a serem previamente acordados com esta empresa [Schillings] esclarecendo que Jean-Claude Bastos não está a ser enriquecido indevidamente ou ilegalmente pelo projecto do Porto de Caio”, a “compensar o nosso cliente pelos danos causados à sua reputação e negócios” e, finalmente, a “pagar os custos legais do nosso cliente”.
Independentemente de não se perceber como é exequível compensar alguém por algo que esse alguém não tem (reputação), a Schillings escreve que “Jean-Claude Bastos não está a ser enriquecido indevidamente ou ilegalmente…”. Repare-se que não nega que Jean-Claude Bastos está a enriquecer indevidamente ou ilegalmente. Nega é que ele esteja “a ser enriquecido indevidamente ou ilegalmente”.
Convenhamos que há uma diferença entre enriquecer ou ser enriquecido. Enriquecer indevidamente ou ilegalmente comprometeria Jean-Claude Bastos, ele próprio. “Estar a ser enriquecido” compromete outra, ou outras, partes. No primeiro caso seria o sujeito activo, no segundo o passivo.
Mas as pérolas da Schillings não ficam por aqui. Recomendam ao Rafael Marques de Morais que “deverá preservar todos os documentos, incluindo, sem limitação, todos os documentos electrónicos, emails, cadernos de notas, pesquisas, cartas, vídeos e qualquer documentário ou registo electrónico da sua decisão editorial e da linha de raciocínio para a sua investigação sobre o nosso cliente”.
Quem diria, não é? Esta preocupação com a defesa do Rafael quase nos leva a verter uma lágrima. Os jornalistas ficam agradecidos e sensibilizados. É claro que ninguém sabe como se preserva “qualquer documentário ou registo electrónico da (…) linha de raciocínio”. Quase parece um “comunicado” escrito pelo Paulo Catarro.
Para além de artigos próprios, o Folha 8 tem reproduzido (com gosto e na defesa intransigente da liberdade de informação onde inclui a verdade, transparência e integridade) muitos dos artigos de Rafael Marques de Morais. E assim vai continuar.
E, para além de continuar, também se recusa a remover “imediatamente os artigos”, e continuará a “republicar” o que entender, não havendo lugar a qualquer pedido de desculpas.
É assim nas Democracias e nos Estados de Direito. Ou será que a Schillings e Jean-Claude Bastos (entre outros) estão a reconhecer e a dizer-nos que Angola não é uma Democracia e um Estado de Direito?